domingo, 14 de novembro de 2021

TATUAGENS (DOENÇA OU PAIXÃO)

Por todo lado, vemos gente ostentando sobre a pele marcas clichês, citações, nomes de ex-namoradas, frases em outras línguas e até, em certos casos bizarros, horríveis tatuagens faciais.

Existem casos em que a tatuagem, executada com bom gosto e senso estético, pode até ser considerada uma forma de arte. Os japoneses e chineses, por exemplo, há séculos são exímios tatuadores, capazes de imprimir sobre a pele humana verdadeiras obras-primas do desenho e da combinação de cores. Da mesma forma, várias culturas ao redor do mundo também usam tatuagens como marca tribal distintiva, ou então como sinais de iniciações mágicas e religiosas.

 Por outro lado, e sobretudo nos países ocidentais, cada vez mais pessoas se deixam tatuar sem nenhuma outra preocupação que a de marcar o próprio corpo. E os resultados muitas vezes são esteticamente desastrosos. Essa prática se alastrou de tal forma, que obrigou os estudiosos a investigaram suas causas e razões.


Por que as pessoas ainda estão tatuando arame farpado em volta dos bíceps, ratos e baratas nas costas e borboletas no cóccix? Tentando entender melhor a questão, o jornalista norte-americano Jules Suzdaltsev entrevistou Kirby Farrel, professor da Universidade de Massachusetts especializado em antropologia, psicologia e história relacionadas ao comportamento humano. Seu último livro, Berserk Style in American Culture, discute o vocabulário da cultura pós-trauma da sociedade norte-americana.

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Corpo marcado. Psicólogo explica por que as pessoas usam tatuagens
26 de março de 2020, 10:46
Tatuagens revelam muito sobre a sociedade na qual elas foram feitas. No Brasil, nos Estados Unidos, e em muitos outros lugares do mundo, vive-se uma verdadeira epidemia de tatuagens, muitas vezes de péssimo gosto. Em entrevista, o psicólogo comportamental Kirby Farrel explica por que as pessoas imprimem marcas no próprio corpo.
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Os japoneses alcançam altos niveis artísticos em suas tatuagens

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Entrevista de Kirby Farrel ao jornalista Jules Suzdaltsev

 

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Por todo lado, vemos gente ostentando sobre a pele marcas clichês, citações, nomes de ex-namoradas, frases em outras línguas e até, em certos casos bizarros, horríveis tatuagens faciais.

Existem casos em que a tatuagem, executada com bom gosto e senso estético, pode até ser considerada uma forma de arte. Os japoneses e chineses, por exemplo, há séculos são exímios tatuadores, capazes de imprimir sobre a pele humana verdadeiras obras-primas do desenho e da combinação de cores. Da mesma forma, várias culturas ao redor do mundo também usam tatuagens como marca tribal distintiva, ou então como sinais de iniciações mágicas e religiosas.

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Na foto, o rosto tatuado de Tomika Te Mutu, chefe da tribo Ngai Te Rangi da Nova Zelândia. O retrato foi feito no final do século 19 e é uma pintura de Gottfried Lindauer

 

Por outro lado, e sobretudo nos países ocidentais, cada vez mais pessoas se deixam tatuar sem nenhuma outra preocupação que a de marcar o próprio corpo. E os resultados muitas vezes são esteticamente desastrosos. Essa prática se alastrou de tal forma, que obrigou os estudiosos a investigaram suas causas e razões.

Por que as pessoas ainda estão tatuando arame farpado em volta dos bíceps, ratos e baratas nas costas e borboletas no cóccix? Tentando entender melhor a questão, o jornalista norte-americano Jules Suzdaltsev entrevistou Kirby Farrel, professor da Universidade de Massachusetts especializado em antropologia, psicologia e história relacionadas ao comportamento humano. Seu último livro, Berserk Style in American Culture, discute o vocabulário da cultura pós-trauma da sociedade norte-americana.

 

A morte tatuada nas costas, em tamanho grande

 

Entrevista com Kirby Farrel:

 

Jules Suzdaltsev: Qual é o seu interesse em tatuagens péssimas?
Kirby Farrel: Estou interessado principalmente no que você pode chamar de "a antropologia da autoestima e identidade". Penso nas tatuagens como um método que as pessoas usam para tentar se sentir significantes no mundo. Trabalho muito com Ernest Becker – você já ouviu falar do livro dele? Acho que ele ganhou um prêmio Pulitzer com esse livro chamado A Negação da Morte.

Sim, já ouvi falar.
Bom, ele argumenta que somos únicos entre os animais, porque somos sobrecarregados com a consciência do futuro, da futilidade, da morte e assim por diante. Estamos constantemente inventando defesas. A cultura é uma defesa contra o sentimento de opressão, futilidade e perdição. Culturas estão cheias de valores e belezas que te fazem sentir que sua vida é significativa e que tem um significado duradouro, mesmo que limitado. Então, você pode dizer que tatuagens são expressões culturais de heroísmo e individualidade.

 

Angelina Jolie preferiu tatuagens de citações em alfabetos orientais

 

Logo, isso se traduz numa epidemia de tatuagens idiotas?
Muitas pessoas dizem que fizeram uma tatuagem como uma lembrança de alguém ou algum evento. Por exemplo, tatuar a letra de uma música. As frases, claro, acabam sendo os maiores clichês. Mas elas estão te exortando a ser um indivíduo forte, imitando todos os outros animais que também pintam clichês na própria pele.

E onde esses caminhos se cruzam? Por um lado, a pessoa quer algo que lhe dê a sensação de significância e autoexpressão, mas acaba fazendo exatamente o oposto disso (o que consideramos uma "tatuagem ruim" ou uma "tatuagem clichê?).
Acho que a fantasia de ser especial, único, importante e heroico, que é do que estamos falando, é complicada quando vivemos numa cultura que celebra esses valores. Estamos sempre bombardeando outros países para preservar nossa "liberdade", o que presumivelmente significa individualidade. Mas, ao mesmo tempo, nossa cultura é intensamente conformista. Temos empresas constantemente tentando imprimir sua marca na consciência popular. Então, por exemplo, se você está tatuando algum clichê bobo de uma música pop, como "Vou te amar para sempre" ou "Não seja um imitador", na verdade você está se marcando com entretenimento industrial, porque grupos de rock, como sabemos, são basicamente máquinas de fazer dinheiro, empregando modelos financiados pela indústria do entretenimento.

 

Difícil carregar pela vida inteira um rosto tatuado desta forma

 

Então por que as pessoas fazem isso?
Uma resposta é que somos animais incrivelmente sociais. Você tem de ter em mente que o eu não é uma coisa. É um evento. Se você está em sono profundo, o eu realmente não existe. A neuroquímica do eu não está ali. Desse ponto de vista, nos sentimos mais reais quando outras pessoas nos afirmam, reasseguram e reforçam nossa identidade. Nos rituais sociais pelos quais passamos, como dizer "Oi, como vai? Bem, e você?", você não espera ouvir qualquer informação pessoal. É só uma confirmação de que vocês dois existem e reconhecem um ao outro. De certa maneira, tatuagens também funcionam assim. Elas chamam atenção para você e fazem você se sentir real, mesmo se essa atenção fizer você se sentir membro de um grande grupo. Uma tatuagem te diz que você é parte de uma tribo de colegas tatuados, uma tribo linda e significativa. Você pode até compartilhar símbolos com outra pessoa! Ao mesmo tempo, por causa do fenômeno das marcas, isso faz você se sentir mais esperto do que o cara ao lado, que não sabe o suficiente para comprar seu produto em particular ou sua moda em particular. A cultura está constantemente nos tentando com fantasias de singularidade e heroísmo.

Parece que você está dizendo que a própria cultura é clichê. Assim, tentando emular essa cultura social, fazemos essas tatuagens ruins.
A cultura está constantemente nos tentando com fantasias de singularidade e heroísmo. Você é tentado a comprar uma nova BMW, porque isso promete te fazer sentir heroico nas ruas. Você vai se destacar na multidão. A multidão é formada de pessoas comuns, elas vão morrer um dia e serão esquecidas. Mas todo mundo está olhando para você, você está sob os holofotes, você é o herói. E, ao mesmo tempo, se você ajustar a perspectiva sutilmente, eles estão fazendo as pessoas comuns acharem que é OK adorar heróis. Você é convidado a identificar e admirar o rico, o heroico, o prestigioso – e, se você os admira, isso se torna "minha música", "meu cabelo" ou "meu produto". Na verdade, você compartilha o glamour com o poder fetichista das coisas que admira.

 


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